Alteração na programação da Revista de Psicanálise da SPPA – Número 3/25
Prezados assinantes,
Comunicamos que houve uma alteração na programação editorial da Revista de Psicanálise da SPPA
Iniciamos nosso convite recordando que, nas origens da psicanálise, o estudo do traumático já ocupava posição central no pensamento freudiano, entendido como o que rompe a camada que protege o excesso de estimulação (1920). E que, ao longo de sua obra, apresentou três diferentes modelos de compreensão do fenômeno.
Dando um passo adiante, salientamos a potência heurística legada por Freud em autores como Ferenczi (trauma em dois tempos), Laplanche (teoria da sedução generalizada), Winnicott (trauma como invasões do ambiente), Lacan (mantém a tensão entre trauma e pulsão), Green (a destrutividade atacando o próprio eu), Philip M. Bromberg (trauma relacional), apenas para citar algumas valiosas contribuições que robusteceram a compreensão sobre o tema.
Reconhecemos, junto a Anna Freud (1967) seu chamado de atenção para a polissemia do termo trauma no campo psicanalítico, que produziu tão ampla gama de interpretações a ponto de correr o risco de perder seu valor conceitual.
O roteiro histórico desta carta convite também poderia começar ao revés, situando de imediato a história do presente, esta que nos apresenta novas facetas do traumático. Muitas são as marcas que têm sofrido nosso psiquismo em meio a situações catastróficas, reveladas através das guerras do século XXI, que não fogem à observação de Segal (1987) de mais parecerem fenômenos surreais, produtores de um pensamento não suportável, das violências e invasões de toda ordem, das fake News, das mudanças climáticas extremas, condições que produzem angústias em excesso. Por vezes, o trabalho elaborativo do après coup parece ser insuficiente para fazer frente ao intempestivo que nos desaloja de nossa história anterior. Apresentam-se situações para as quais a lógica de buscar os recursos na reminiscência, na história passada, nas formas identitárias, podem já não ser mais suficientes para garantir a sobrevivência psíquica.
O caminho das estruturas sólidas da modernidade apontava sua flexa para o futuro baseada na crença do progresso científico. O controverso conceito de progresso que dali evoluiu, não somente esfumaçou as sólidas estruturas da modernidade, dando espaço às formações sociais líquidas, imprecisas e impermanentes da contemporaneidade, quanto nos deixa perplexos frente à pergunta se ainda existirá um futuro.
Dependerá, nossa sobrevivência psíquica, de irmos nos desalojando de nossas hegemônicas estruturas sólidas conhecidas para darmos lugar a contextos nos quais as marcas traumáticas produzam novas experiências subjetivantes? Não mais um “voltar ao equilíbrio anterior”, mas criar ferramentas conceituais e clínicas que tanto possam associar com o passado quanto produzir novas inscrições na realidade?
Brown (2006) sugere que um dos pilares da camada protetora é a capacidade de pensar, sonhar e imaginar. Estas capacidades são relacionadas (ou dependentes) de experiências precoces positivas com a mãe contendo, transformando e mentalizando o que o bebê projeta. E esta interação continente-transformante que vai se instalando no bebê como parte do aparato da função alfa. (Bion, 1962).
A análise de pacientes severamente traumatizados diz respeito à busca por retomar o desenvolvimento normal de conversão de elementos beta em elementos alfa, transformando fatos indigestos em memória e ajudando estes pacientes a integrar-historicizar estas memórias no seu senso de identidade. Oferecer função alfa para ajudar a lidar com o insuportável, para pensar o impensável e para transformar o que Ogden 2004) chama de undreamable experience.
Embora não esqueçamos que o trauma psíquico é vivido e processado por cada sujeito em sua singularidade, observamos que os abalos sofridos pelas populações, seja em nível regional ou planetário, têm nos envolvido coletivamente, como cidadãos e como analistas. Somos partícipes e testemunhas, junto a nossos analisandos, dos mesmos acontecimentos – pontos de origem, nos quais um inexistente passa a existir (Badiou, 1966).
Quase impossível antecipar, tal como ocorreu recentemente, que o Estado do Rio Grande do Sul teria 87 por centro de sua extensão territorial debaixo d’água num período que mal ultrapassou uma semana. E testemunhar as consequências para os milhões de vidas que perderam suas casas/corpos, suas cidades, seus trabalhos, grande parte de sua dignidade e esperança. Quão mais complexa se torna a neutralidade analítica quando analistas e pacientes vivem em mundos superpostos (Puget e Wenders, 2021) partícipes de uma mesma catástrofe que os atravessa. E quão necessária foi a participação dos analistas e das instituições psicanalíticas, criando, inventando novas formas de acolher o sofrimento humano em meio ao acontecimento, este que nunca vem acompanhado de bússulas ou manual de instruções.
A questão de por onde iniciar a carta-convite parece não ser mais necessária. Seja pelo passado ou pelo presente, contribuições psicanalíticas clássicas e contemporâneas, todas apontam para a importância de seguirmos estudando e produzindo conhecimento. Consideramos que escrever sobre trauma e sobrevivência psíquica também pode ser uma forma de sublimar o impacto das situações traumáticas que envolve todos nós. Resta-nos renovar o convite a compartilhar suas ideias, reflexões, experiências, desejando que receba este chamado à escrita com o mesmo entusiasmo com o qual estamos lhe enviando esta carta.
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