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  • Tabu: proibições, preconceitos e limites
    Vol. 31 No. 3 (2024)

    Ainda existem tabus, proibições, preconceitos e limites? E na psicanálise? Quais seriam? Onde surgem e como se manifestam?
    Apesar do tabu trazer em si o sentido de algo inabordável, a não ser com espírito de horror, ele sempre desperta um grande interesse por sua exploração.
    Os vários pontos de intersecção da psicanálise com a esfera psíquica da cultura formam um complexo de temas multifacetados que tratam do esforço coletivo para tentar dar conta do pulsional e, assim, compreender e regular as relações entre os homens. O espírito desbravador de Freud, cujos interesses estavam voltados simultaneamente aos arquivos da cultura e aos arquivos individuais, revelam-nos consonâncias entre os recalcamentos do sujeito e o traumático da cultura, levantando hipóteses para estabelecer relações da ontologia com a filogenia.
    Em especial no ensaio Totem e Tabu (1912), Freud debruça-se sobre os funcionamentos primitivos, sejam civilizatórios ou mentais, e desenvolve seu raciocínio em uma zona entre o sagrado e o estranho (Unheimlich), o medo de algo diabólico e de se tornar algo diabólico, o medo e o desejo de violação. O risco do contágio incide no desejo de romper com a proibição. De acordo com o autor, a ambivalência parece ser a matéria prima constituinte do tabu, em que sentimentos de culpa e ansiedades persecutórias manifestam-se conjuntamente com veneração e luto pela perda.
    Na esteira de sua pesquisa antropológica, o desenvolvimento da civilização parece seguir um caminho que parte do totemismo e vai em direção a formas de convívio nas quais a moralidade propiciaria uma vida social.
    Pensando tabus e retirando-os do absolutismo, podem emergir recursos mentais mais flexíveis, arejados e diversos.
    A escrita desta obra, que completa 112 anos, mais do que oferecer conclusões, é um convite a seguirmos pesquisando, refletindo sobre a complexa e multiestratificada construção tanto de nossa psique como da cultura. Em Totem e Tabu, Freud abordou temas como a ordem primeva e o ritual totêmico canibal, as religiões e as proibições, além de robustecer o conhecimento psicanalítico, sintetizando o saber antropológico, etnológico, social e filosófico de sua época.
    Apesar ter sido recebido de maneira ambígua, não resta dúvida de que este ensaio brilhante está o tempo inteiro traçando e apagando as fronteiras entre o pensamento mágico e o científico. Não seria este um traçado ainda em construção, repleto de novas compreensões e, ao mesmo tempo, de novos apagamentos?
    Novos tabus desafiam a nossa compreensão psicanalítica, tanto em nível do diálogo clínico quanto institucional.
    Existe um sentimento generalizado de que as configurações do tempo têm privilegiado o imediatismo, a liquidez e “cancelamentos” nas relações e escolhas de vida, a incapacidade de enlutar, o hedonismo, o individualismo no mundo interconectado... quais novos tabus estão sendo produzidos? Se o tabu diz respeito ao proibido, o que esconde o exibicionismo atual que tudo mostra?
    E no exercício da psicanálise, quais temas, situações e contextos poderíamos considerar como tabus?

  • Meltzer - O conflito estético e o florescimento do psiquismo
    Vol. 31 No. 2 (2024)

    Temos sido partícipes, protagonistas e colaboradores de uma psicanálise que não cessa de buscar e produzir expansões.  Na esteira deste movimento, a atualidade e o amplo espectro de contribuições de Donald Meltzer (1922-2004), é um dos mananciais que, ao dialogar com seus antecessores e com as disciplinas afins à psicanálise, abre portas para toda uma nova configuração de nossa disciplina.

    Dentre suas realizações, presentes em suas obras compostas por livros, artigos, cursos e supervisões, podemos sublinhar sua preocupação com a evolução e vicissitudes do relacionamento analítico, do mundo interno, da realidade psíquica e da maneira como duas mentes podem trabalhar de forma cooperativa.

    Desde seus primeiros achados em explorações sobre o autismo, que lhe possibilitou desenvolver a teoria da bidimensionalidade da vida mental, passando pelas projeções tirânicas do claustrum e indo em direção ao nível da tridimensionalidade, suas contribuições abrem um novo campo de investigação quando afirma que o conflito estético é o fundamento subjacente ao florescimento do psíquismo.

    Pensador incansável sobre o método psicanalítico, considerado um enfant terrible por alguns críticos, o fato é que, como um devotado pai comum, suas ideias têm o frescor e um poder de seguir fascinando pelo mistério, curiosidade, cultivo da criatividade, caminho do aprofundamento e da expansão de nossa ciência-arte.

    Na vigência do centenário de nascimento deste autor de repercussão internacional, é com entusiasmo que propomos esta homenagem que certamente enriquecerá o profícuo diálogo psicanalítico com/e a partir de Donald Meltzer.

  • Bion: transformações, evoluções e expansões II
    Vol. 31 No. 1 (2024)

    Celebrando os trinta anos da Revista de Psicanálise da SPPA, duas décadas após a Seção Especial Bion Comentado, Bion Comentado - Parte 1 , Bion Comentado - Parte 2 e Bion Comentado - Parte 3, e atentos ao contínuo interesse e propagação de estudos sobre a obra de Bion e seus seguidores, propomos a publicação de um novo volume com o eixo temático: Bion: Transformações, Evoluções e Expansões.

    Frente aos desafios que atualmente nos são apresentados a partir das incessantes mudanças – climáticas, sociais, sanitárias, políticas, institucionais, religiosas, tecnológicas, entre outras –, bem como as identitárias e suas consequentes demandas psíquicas, pensamos ser oportuno refletir sobre o conceito de Transformações introduzido por Bion (1965).

    Nosso objetivo é conhecer e publicar as realizações que evoluem e se expandem a partir de Transformações (1965) e suas invariâncias, ideias estas que seguem reverberando e influenciando a psicanálise contemporânea.

    Bion, desde seus trabalhos iniciais publicados em Experiências com Grupos (1948-1951) deixou-nos um manancial de reflexões a partir de suas experiências pessoais. Sua originalidade segue nos desafiando a refletir sobre o encontro psicanalítico na dimensão do at-one-ment, enriquecendo o pensamento e a clínica psicanalítica.

    Resgatando, atualizando e transformando, esperamos que este número possa oferecer aos leitores novos vértices, visões binoculares e multifocais, além de integrar diferentes produções que contribuam para a divulgação das pesquisas e dos desenvolvimentos teóricos e clínicos relacionados ao tema.

  • Bion: Transformations, Evolutions and Expansions I
    Vol. 30 No. 3 (2023)

    In celebration of thirty years of the publication of the Revista de Psicanálise da SPPA, two decades after the Special Section on Bion, Bion Commented - Part 1, Bion Commented - Part 2 and Bion Commented - Part 3, and attentive to the continued interest and propagation of studies on the work of Bion and his followers, we propose the publication of a new volume with the following thematic focus: Bion: Transformations, Evolutions and Expansions.

    Considering the challenges we currently face from incessant changes – climate, social, public health, political, institutional, religious, technological ... – as well as identities and their psychic demands, we think it is opportune to reflect on the concept of transformations introduced by Bion (1965).

    Our aim is to publish and become familiar with developments that have evolved and expanded from Transformations (1965) and its constants, ideas that continue to resonate and influence contemporary psychoanalysis.

    Since his initial works published in Experiences in Groups (1948-1951), Bion has left us a wealth of reflections from his personal experiences. His originality continues to challenge us to reflect on the psychoanalytic encounter in its dimension of “at-one-ment,” enriching psychoanalytic thought and practice.

    In recovering, updating and transforming, we hope that this issue will offer readers new vertices, augmented and multifocal perspectives, in addition to integrating different productions that contribute to the dissemination of theoretical and clinical developments and research related to the theme.

  • Edição INTRA, INTER E TRANS SUBJETIVIDADE - Parte 2 da Revista de Psicanálise da SPPA

    Intra, Inter and Trans Subjectivity - Part 2
    Vol. 30 No. 2 (2023)

    When we begin to consider the relation of multiple subjectivities both as fluid and interchangeable structures and as sedimented structures, in what manner is the status of the subject established and to what degree is it transformed at the expense of changing individualities? How does the process of subjectivation, its specificities and distortions – the special interest of psychoanalysis – occur in the subject inserted in culture? Are we indeed individuated?

    Freud bequeathed us conceptions that regard the movement between extremes, from the solipsistic subjectivation of primary narcissism to the assertion that individual psychology is in fact social psychology, constituted by and open to the experience with the other. Psychoanalysis, however, gravitated toward the assertion that the participation of the other in the formation of the subject and the quality of this influence are inseparable. Defended by Ferenczi, it sedimented itself in Klein’s concept of projective identification, further expanded by Winnicott and Bion and their followers, to the point of expanding the psychoanalytic field and the manifestations of the analytic third in Green and Ogden. This path came to constitute a core concept in contemporary psychoanalysis, a central element in the theory and technique of branches of relational psychoanalysis, intersubjective and couple and family psychoanalysis.

    A sensible path would be to think of subjectivity as present in different perspectives, constituting the intrasubjective, the intersubjective and the trans subjective: the first comprised of representations of oneself, of the body, and would be composed of drive, desire, fantasy and object relations; the second would comprise representations of the other(s) in the psyche, with their unconscious pacts and agreements, and the third would comprise representations of the real external world, its physical and social dimension. In this sense the subject, in intersubjective terms, would be constituted with and through interactions with others, becoming at the same time the product and producer, intersubjective cause and effect. However, as interrelated spaces, how would this interrelationship take place? Would it be in Winnicott’s transitional form, by an intermediary process, but conserving the hegemony of the first space for the necessary constitution and stability of the self? Or would it be as an aggregate of interacting parts, maintaining relations of relative independence among themselves, in which the multiple interactions lead to a permanent heterogeneous and discontinuous totality and in which, whichever part is modified, it would have an effect on all parts, in other words, on the totality?

    In relation to subjectivity constituted by and inserted in the group, it would undergo a tension in the meaning of inside and outside and in corporeal limits and autonomy, weakening the concept of the individual. Authors such as Pichon Rivière, P. Aulagnier and Laplanche theoretically blazed this trail. In more recent times, R. Kaës presented his concept of bonds as something that, autonomously, guides psychic and bodily investments and divestments between subjects (intersubjectivity) or through them (trans subjectivity). Following these developments around how a subject is formed and maintained, what repercussions would it have on psychoanalytic practice? We see that the current situation in clinical practice leads us to an increasing inclusion of inter- and trans subjective elements. Might this fact lead to the intrapsychic losing its metapsychological importance in relation to other spaces? Could this be an experience inherent to the contemporary subject or is it via the contemporary subject that psychoanalysis is stimulated to produce a representational and conceptual increase? It is important to ask ourselves whether psychoanalysis should follow theoretically and technically the existing psychic structure or execute its role of observing, interrogating, reflecting upon and adding theorizations for technical changes.

    On the other hand, certain current events, such as mass migrations, the Covid-19 pandemic, climate change, different family configurations, new sexualities, the resurgence of fanatical ideologies and post-truth, are superimposed over individualities and, in adding an experience that cannot be conceived only in terms of intersubjectivity, underscore the trans subjective space. The speed and insistence with which they are reported convey a hint that something is going on that escapes our understanding. Will this news present truths of the current world, constituted by events that bear evidence to the trans subjective space in search of integration, or will it deal with the power and the use that this space can have on the inter- and intrasubjective, which might be used for other purposes?

  • Edição INTRA, INTER E TRANS SUBJETIVIDADE - Parte 1 da Revista de Psicanálise da SPPA

    Intra, Inter and Trans Subjectivity - Part 1
    Vol. 30 No. 1 (2023)

    When we begin to consider the relation of multiple subjectivities both as fluid and interchangeable structures and as sedimented structures, in what manner is the status of the subject established and to what degree is it transformed at the expense of changing individualities? How does the process of subjectivation, its specificities and distortions – the special interest of psychoanalysis – occur in the subject inserted in culture? Are we indeed individuated

    Freud bequeathed us conceptions that regard the movement between extremes, from the solipsistic subjectivation of primary narcissism to the assertion that individual psychology is in fact social psychology, constituted by and open to the experience with the other. Psychoanalysis, however, gravitated toward the assertion that the participation of the other in the formation of the subject and the quality of this influence are inseparable. Defended by Ferenczi, it sedimented itself in Klein’s concept of projective identification, further expanded by Winnicott and Bion and their followers, to the point of expanding the psychoanalytic field and the manifestations of the analytic third in Green and Ogden. This path came to constitute a core concept in contemporary psychoanalysis, a central element in the theory and technique of branches of relational psychoanalysis, intersubjective and couple and family psychoanalysis.

    A sensible path would be to think of subjectivity as present in different perspectives, constituting the intrasubjective, the intersubjective and the trans subjective: the first comprised of representations of oneself, of the body, and would be composed of drive, desire, fantasy and object relations; the second would comprise representations of the other(s) in the psyche, with their unconscious pacts and agreements, and the third would comprise representations of the real external world, its physical and social dimension. In this sense the subject, in intersubjective terms, would be constituted with and through interactions with others, becoming at the same time the product and producer, intersubjective cause and effect. However, as interrelated spaces, how would this interrelationship take place? Would it be in Winnicott’s transitional form, by an intermediary process, but conserving the hegemony of the first space for the necessary constitution and stability of the self? Or would it be as an aggregate of interacting parts, maintaining relations of relative independence among themselves, in which the multiple interactions lead to a permanent heterogeneous and discontinuous totality and in which, whichever part is modified, it would have an effect on all parts, in other words, on the totality?

    In relation to subjectivity constituted by and inserted in the group, it would undergo a tension in the meaning of inside and outside and in corporeal limits and autonomy, weakening the concept of the individual. Authors such as Pichon Rivière, P. Aulagnier and Laplanche theoretically blazed this trail. In more recent times, R. Kaës presented his concept of bonds as something that, autonomously, guides psychic and bodily investments and divestments between subjects (intersubjectivity) or through them (trans subjectivity). Following these developments around how a subject is formed and maintained, what repercussions would it have on psychoanalytic practice? We see that the current situation in clinical practice leads us to an increasing inclusion of inter- and trans subjective elements. Might this fact lead to the intrapsychic losing its metapsychological importance in relation to other spaces? Could this be an experience inherent to the contemporary subject or is it via the contemporary subject that psychoanalysis is stimulated to produce a representational and conceptual increase? It is important to ask ourselves whether psychoanalysis should follow theoretically and technically the existing psychic structure or execute its role of observing, interrogating, reflecting upon and adding theorizations for technical changes.

    On the other hand, certain current events, such as mass migrations, the Covid-19 pandemic, climate change, different family configurations, new sexualities, the resurgence of fanatical ideologies and post-truth, are superimposed over individualities and, in adding an experience that cannot be conceived only in terms of intersubjectivity, underscore the trans subjective space. The speed and insistence with which they are reported convey a hint that something is going on that escapes our understanding. Will this news present truths of the current world, constituted by events that bear evidence to the trans subjective space in search of integration, or will it deal with the power and the use that this space can have on the inter- and intrasubjective, which might be used for other purposes?

  • Edição ENVELHECER da Revista de Psicanálise da SPPA

    Envelhecer
    Vol. 29 No. 3 (2022)

    Nos dias atuais, existe um aumento significativo da porcentagem de idosos na população mundial e uma crescente mudança do papel do idoso, em que a imagem dominante – positiva ou negativa - sobre o envelhecimento vem se afastando do processo de declínio físico, evoluindo para uma construção social relacionada ao contexto histórico e econômico. Isto culmina em uma grande heterogeneidade no grupo e coloca em tensão o conceito de idoso, fazendo com que a experiência individual acabe por se impor ao papel social. Apesar dos avanços sociais, esta faixa etária apresenta características intrigantes e portadoras de um estranhamento, frequentemente manejadas nos extremos da desmentida e da infelicidade. Talvez as palavras de Freud (1926) e de Pessoa (1929) possam nos ajudar a pensar a partir do contraste de posições. Quando contava mais de 70 anos de idade, Freud, em uma conhecida entrevista dada à G.S. Viereck, diz,

    (...) não me revolto contra a ordem universal, afinal vivi mais de setenta anos. Eu tive o que comer. Desfrutei de muitas coisas – do companheirismo de minha esposa, dos meus filhos, do pôr-do-sol. Eu vi as plantas crescerem na primavera, algumas vezes recebi um aperto de mão de um amigo. Uma ou duas vezes encontrei um ser humano que quase me entendeu. O que mais posso querer? (Freud, 1926)

    Em uma poesia, Fernando Pessoa (Álvaro de Campos, 1929) reflete outro modo de sentir a passagem pela vida:

    No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. (...) Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias. Serei velho quando o for. Mais nada. Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!... O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...(s/p)

    Em grande parte, o envelhecer certamente constitui um processo individual e matizado pelo Eu de cada um. Se buscarmos um ponto em comum dentro da experiência do envelhecimento, talvez a percepção das expressivas mudanças corporais represente o dado mais constante e inexorável. Freud (1915) alertou-nos que, para o inconsciente, a ideia da própria morte é inacessível, bem como a passagem cronológica do tempo e, por consequência, o envelhecimento. Como na adolescência, na qual o Eu deverá sobreviver ao novo corpo e ao estatuto do gozo orgástico (Roussillon, 2013), o que este corpo em transformação pelo envelhecimento acaba nos impondo em termos de trabalho psíquico? De que forma trabalhamos as noções e os destinos pulsionais em tal fase? Quais ilusões e desilusões nos acompanham nesta etapa da vida? O que conquistamos com a experiência de envelhecer? Podemos entender que, hoje, em paralelo ao aumento da expectativa de vida, existe qualidade para este alongamento de tempo? Percebemos em nossa cultura o respeito, a consideração, a valorização ou a admiração pelo conhecimento e pela experiência de pessoas mais velhas? Ou há uma mudança de paradigma ao serem invertidas as posições, hipervalorizando a juventude, a força física e o vigor sexual da adolescência? Seria realmente possível para o ser humano tomar a vivência de generatividade proposta por Erikson (1998) como uma possibilidade? Ela contempla uma perspectiva em que a continuidade ocorre através do desejo de guiar, orientar e ajudar as novas gerações a encontrar seu lugar no mundo, permitindo ao final uma sensação de maior integridade do Eu. Reflexão e experiência, elementos essenciais para a cadeia de ciclos, funcionariam como contrapartida às vivências de estagnação. Estas seriam algumas questões concernentes à concepção psicanalítica do envelhecer, vivenciada e testemunhada pelo nosso próprio envelhecimento, bem como de nossos pacientes e analistas. Ao expandir a questão do envelhecimento enquanto processo contínuo, infinito e não restrito apenas ao universo intrapsíquico, relacionando-o ao mundo externo, observamos o envelhecer, acompanhado ou não de morte, para instituições, ideologias, conceitos, modelos, tecnologias e tendências. Desta forma, questionamo-nos se, após fases transitórias, o que sobrevém é o amadurecimento com ganho de experiência ou a morte no sentido de precisar morrer para renascer, renovar. Os vértices da continuidade progressiva mantém-se ou há rupturas? E sobre a psicanálise? Percebe-se um “ envelhecimento “ em nossos modelos de formação? Ou há renovação nos protocolos formativos e na transmissão de conhecimento para as novas gerações de psicanalistas? Em que medida as mudanças sistemáticas e frenéticas a que temos sido desafiados contemplam e evoluem nossos modelos teóricos e técnicos ou nos impulsionam a emergentes mudanças ao avançar de forma impensada, saltando entre extremos arriscados de banalização ou extinção da psicanálise?

     

  • Edição PSICANÁLISE BRASILEIRA da Revista de Psicanálise da SPPA

    Psicanálise Brasileira
    Vol. 29 No. 2 (2022)

    Ao propor o número temático Psicanálise Brasileira, procuramos trazer ao nosso leitor um conjunto de artigos capaz de expressar o percurso e a conjuntura atual da psicanálise exercida em nosso país, explicitando as múltiplas facetas que compõem a sua identidade, assim como suas particularidades e generalidades. Partimos de uma interrogação: existe uma Psicanálise Brasileira? Seria uma psicanálise que não se restringe à questão territorial, abarcando o âmbito dos sistemas de significações da cultura em sua totalidade, através dos quais grupos humanos encontram-se e mantém a sua coesão. Frente a isso, vislumbramos um campo relacional entre a cultura brasileira e a cultura psicanalítica desenvolvida no Brasil, tratando não somente de suas relações como também das intersecções e tensões. O que define culturalmente ser brasileiro? Assim como não há dúvida de que algo nos une em torno de uma representação homogênea, reforçando a crença de unidade, de identidade e de indivisibilidade da nação e do povo brasileiro, parece que algo também nos separa drasticamente. Neste sentido, podemos falar de Brasil? Ou de muitos “brasis”, como se refere Darcy Ribeiro (1995)? Seremos, como ele declara, “(...) A doçura mais terna e a crueldade mais atroz [que] aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos”? De alguma forma, estamos condenados a andar como eternos Severinos em busca da vida - ou fuga da morte - ou seremos defensores ferrenhos de nossos latifúndios culturais e territoriais? Ao levantar estas questões, não pretendemos buscar respostas, mas considerar a contextualização do que existe de específico na psicanálise exercida no Brasil para pensar a cultura psicanalítica do e no Brasil.

    A psicanálise chegou até nós a partir de construções intelectuais europeias transmitidas por uma série de precursores em SP, RS e RJ. Passadas muitas décadas, torna-se importante perguntar: em que meios ela floresceu e quais desenvolvimentos não foram alcançados? Há uma transculturação ou aculturação inerente ao processo de construção de novos elementos teóricos? Poderia este processo ser comparado ao apelo do manifesto antropofágico? Considerando que o sujeito na contemporaneidade é o sujeito em seu contexto, utilizamos conhecimento, técnica e modelos de outros locais do mundo para significar o contexto no qual estamos inseridos? Em que medida? Poderíamos pensar que Macunaíma seria um simulacro da ideia de um povo brasileiro, “temperado com bordeaux”, como refere Denilson Baniwa, artista plástico e curador da exposição ReAntropofagia, resgatando o apagamento das matrizes identitárias de povos originários brasileiros? Como (ou o quanto) a Psicanálise brasileira integra o contexto originário do Brasil? Repetimos os padrões de acesso aos serviços dos quais a maior parte da sociedade é alijada ou mantemos as especificidades que definiram sua difusão e o acesso à psicanálise? Qual a participação da história e da cultura das sociedades psicanalíticas brasileiras nos caminhos tomados? Quais vertentes teóricas ou modelos identificatórios que cada sociedade mantém e como é o processo de transformação? Quais autores nos acompanham, suas inspirações criativas e como se expandem, ou não, no território nacional e internacional da psicanálise? Como quarto eixo do processo de formação, qual a repercussão da participação institucional na atual formação de novos psicanalistas? Quais as linhas teóricas e os modelos de prática analítica que são ensinados e buscados atualmente nos institutos? Qual a distância entre o ideal buscado e a realidade possível?

    A FEBRAPSI (2008), buscando uma corporeidade federativa, surgiu em 1967 como Associação Brasileira de Psicanálise. Inúmeros solavancos foram enfrentados neste caminho. Passados 40 anos, surgiu a Diretoria de Comunidade e Cultura. Como poderíamos compreender esta aquisição tardia? Quais as perspectivas e interfaces desta ampliação, que desde Freud era anunciada como um desenvolvimento previsto? Quais os avanços, limites e riscos de tal prática?

    Por ser um tema em busca de construção, sugerimos estes questionamentos como estímulo e convidamos os colegas a nos contarem sobre o seu ofício psicanalítico enquanto brasileiros. Vamos examinar e relatar nossa trajetória, abordando o modo como fomos, estamos sendo e seremos formados em psicanálise no Brasil. Vamos juntos compor uma aquarela psicanalítica brasileira, ressaltando nossos tons, ritmos e notas, e assim contribuir para a integração das variáveis constituintes da psicanálise que exercemos em suas diversas expressões, identidades, processos e desenvolvimentos teóricos.

  • Edição TRANSITORIEDADE(S) da Revista de Psicanálise da SPPA

    Transience(s) - continuous publishing edition
    Vol. 29 No. 1 (2022)

    In 1915, at the invitation of the Goethe Society of Berlin for a commemorative volume entitled Goethe’s country, Freud has left us a brief and thought-provoking text. It encourages us to reflect on the then-current feelings in situations of mourning and melancholy, which today are refreshed by the impression that we are living in a constant state of expectancy and unpredictability of return, by the successive partiality of progress and, particularly, by repeated and daily mourning.

    Freud starts his text with a beautiful sentence: “Not long ago I went on a summer walk through a smiling countryside in the company of a taciturn friend and of a young but already famous poet (...)”. The young poet claimed to be sad as he noticed that all the beauty of not only nature around them, but also that created by men, was fated to extinction. To counter the poet's dismay would be the concept that nothing could diminish the beauty of the world from our sensations and, hence, the demand for immortality. Freud then reflects on perishing and, rightfully so, finds admiration and enchantment for transience, for the comings and goings, for the perpetual return, for the aesthetic fruition brought by the inherent fleetingness of this movement: dying, reviving, springing up, maturing, developing, growing old and dying again. He will then conclude that only by facing the work of mourning, arising from the transience of unusual experiences, will the individual be free for the profound act of living and its subsequent reinvestments.

    We believe that fruitful insights can be gained from the perception of transience in everything we live: whether good, beautiful and just; or evil, disgusting and sinister. Transience in its multiple domains of meaning, ranging from softness, delicacy, lightness, fluidity, tenuity, to fleetingness, swiftness, immediacy, haste, and even perishability. Therefore, as we are plunged into the unexpectancy and violence that hits us and reminds us of our inevitable loneliness, dependence, helplessness, and powerlessness in the face of death, the subject of loss and mourning emerges, while offering us a sense of renewal. One needs the winter for new seeds to sprout. One needs death for Life to rise again. As Freud did when he addressed the value of time scarcity, there is a beauty in transience that compiles eternity into a moment. Time, our time, becomes yet another vertex of potential creative inspiration.

    In these times of coming and going, ending and starting all over again, how do we think and feel transience today? What do we understand and how do we deal with these insights and experiences? How our psychoanalytical practice and our theoretical thinking converse with, acknowledge, or are nourished by our transience? And would repudiation, splitting, and outpouring point to the limits of consideration of our transience?

  • O novo mal-estar na civilização: Elaborações
    Vol. 28 No. 3 (2021)

    Frente a todo esse complexo cenário, a Revista de Psicanálise da SPPA propõe a publicação de uma série de reflexões sobre este mal-estar epidêmico e sobre a crise da civilização por meio de um ano temático a ser constituído por uma trilogia, nomeada O NOVO MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO.

    Completa a trilogia o número ELABORAÇÕES, que oferece espaço para textos sobre aspectos ligados à necessidade e à importância de, no tempo possível, pensarmos limites e buscarmos recursos para os encaminhamentos psíquicos e transformações possíveis advindos destas vivências.

  • The New Malaise in the Civilization: Repercussions in the Technique
    Vol. 28 No. 2 (2021)

    Faced with this complex scenario, the SPPA's Revista de Psicanalysis proposes the publication of a series of reflections on this epidemic malaise and on the crisis of civilization through a thematic year to be constituted by a trilogy, named THE NEW MALAISE IN THE CIVILIZATION.

    The second issue published in continuous flow, entitled REPERCUSSIONS IN THE TECHNIQUE, deals with studies on the impact of this context on psychoanalytic technique from the need to establish new boundaries and interfaces of psychoanalysis.

  • The New Malaise in the Civilization: Disruptions
    Vol. 28 No. 1 (2021)

    Faced with this complex scenario, the SPPA's Psychoanalysis Journal proposes the publication of a series of reflections on this epidemic malaise and on the crisis of civilization through a thematic year to be constituted by a trilogy, named THE NEW MALAISE IN THE CIVILIZATION.

    We will present, in continuous flow, a set of intra and inter psychic manifestations, related to this process in the first number called DISRUPTIONS.

  • Ética e Psicanálise
    Vol. 27 No. 3 (2020)

  • D. W. Winnicott
    Vol. 27 No. 2 (2020)

  • Neurose
    Vol. 27 No. 1 (2020)

  • Psicanálise e Comunidade
    Vol. 26 No. 3 (2019)

  • Verdade/Mentira II
    Vol. 26 No. 2 (2019)

  • Verdade/Mentira I
    Vol. 26 No. 1 (2019)

  • Número 2
    Vol. 25 No. 2 (2018)

  • Amor
    Vol. 25 No. 1 (2018)

  • Ódio
    Vol. 24 No. 3 (2017)

  • Número 2
    Vol. 24 No. 2 (2017)

  • Corpo
    Vol. 24 No. 1 (2017)

  • Campo Analítico II
    Vol. 23 No. 3 (2016)

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