Editorial
DOI:
https://doi.org/10.5281/sppa%20revista.v25i2.364Resumen
Dedicamos esse número de nossa Revista ao amigo, colega, professor, analista didata e ex-presidente da SPPA Paulo Fonseca, falecido em 12 de maio de 2017. Desde a sua prematura morte, pensamos em lhe prestar homenagem, a qual se torna possível agora por meio da publicação do artigo Túmulo e palavra: o after life para prolongar um último toque com a ponta dos dedos, de autoria de sua esposa, a psicóloga e doutora em Educação Tânia Mara Galli Fonseca. A professora Tânia enviou-nos esse comovente texto em que reflete sobre a necessidade de escrever diante das perdas para promover reparação e elaboração. Conforme as suas palavras, “escrevemos [...] por este impulso de fazer sobreviver aquilo que não temos mais em nossa presente vida”. Acreditamos que não existe forma mais bela e tocante do que esta para prestarmos tributo ao Paulo.
A seguir, publicamos outro trabalho que aborda o ato da escrita em psicanálise, denominado Escrever algo que se gostaria de ler. Da literatura à psicanálise as coordenadas espaço-temporais do escrever, de autoria das psicanalistas italianas Daniela Mingotti, Valentina Nuzzaci, Ioana Sorete e Anna Daniela Linciano. A hipótese nele apresentada é que a escrita psicanalítica criativa consiste não apenas na tentativa de ressignificar e revivenciar aquilo que ocorreu entre paciente e analista, mas em uma maneira de mostrar que o próprio ato de escrever se torna uma nova e potencialmente transformadora experiência emocional. Publicar textos que versam sobre o papel e a função terapêutica da escrita neste 25º aniversário da SPPA e de sua Revista de Psicanálise é igualmente uma forma de homenagear e valorizar aos autores que, durante todos esses anos, têm contribuído e enriquecido este periódico com as suas produções científicas.
Além disto, neste número contamos com vários artigos de colegas de nossa Sociedade, algo especialmente gratificante, bem como apresentamos trabalhos de psicanalistas de outras origens, cumprindo, assim, nosso objetivo editorial de buscar o permanente intercâmbio de conhecimentos científicos com colegas das mais variadas nacionalidades e referenciais teóricos.
Com a intenção de ilustrar os efeitos transformadores de uma viagem de volta ao mundo sensorial do bebê, a psicanalista Nara Amália Caron e a doutora em psicologia Rita Sobreira Lopes analisam o filme argentino Las acácias, no artigo intitulado Cruzando fronteiras na intimidade da casa-boleia de um caminhão: as transformações vividas por um homem tocado pelo mundo sensorial de um bebê e sua mãe.
O psicanalista Antonio Carlos J. Pires contribui com Desamparo psíquico e adição ao poder: algumas contribuições de Fairbairn ao tema, no qual aborda a relação entre desamparo psíquico e adição ao poder, com destaque aos aportes de Fairbairn sobre o assunto. Pela visão do autor, a busca do poder está vinculada à ideia de onipotência, funcionando como uma defesa inconsciente diante do desamparo.
Ana Lucia Monteiro Oliveira apresenta os manejos que utiliza em momentos regressivos de pacientes neuróticos e com pacientes borderline, trazendo algumas inovações à técnica. Conclui que, por meio da contratransferência, da intuição e da arte da técnica, o analista pode atender o seu paciente da mesma maneira com que a mãe atende o recém nascido. Por isto, através do artigo A preocupação psicanalítica primária, parafraseia o conceito winnicottiano de preocupação materna primária.
Colaborador de longa data da Revista, o psicanalista italiano Antonio Imbasciati remeteu-nos o seu trabalho Inconsciente e consciência da memória: uma contribuição das neurociências. Ele procura integrar a psicologia geral, a psicologia clínica perinatal, a psicanálise e as neurociências, abordando as relações entre memória e consciência, com o objetivo de promover uma definição unitária do conceito de inconsciente.
Narcisismo, analidade e imagem fálica nas relações cotidianas é o artigo que Carlos Marcírio Naumann Machado escreveu para este número. Ele utiliza o referencial do psicanalista francês Belà Grunberger quanto à analidade e à imagem fálica, relacionando esses aspectos com a intersubjetividade. Afirma que, para Grunberger, na base dos movimentos pulsionais se encontraria o componente anal.
Em tempos de tecnologias informáticas e da sua inevitável presença no cotidiano dos psicanalistas, Clarice Kowacs introduz um novo conceito por meio do artigo Identificação projetiva eletronicamente mediada: o analista e o dialeto virtual. Ao refletir acerca da presença de artefatos eletrônicos no setting e o seu impacto no campo psicanalítico, a autora explora a qualidade comunicativa de tais aparatos, sugerindo a necessidade de compreensão e incorporação do dialeto digital por parte dos psicanalistas contemporâneos.
Conforme nossos objetivos editoriais mais recentes, temos selecionado, traduzido e publicado artigos do International Journal of Psychoanalysis que gentilmente nos foram cedidos para esta finalidade. Escolhemos para o presente número da Revista o artigo da psicanalista inglesa e atual presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise, Catalina Bronstein. No trabalho intitulado Encontrando a fantasia inconsciente na sessão: reconhecendo a forma, publicado originalmente em 2012, ela discute – a partir de um referencial kleiniano – as várias formas através das quais as fantasias inconscientes se manifestam na sessão analítica, conforme são vivenciadas e colocadas em ato na transferência. Explora, ainda, o impacto que manifestações emocionais conectadas a fantasias brutas, pré-simbólicas, possuem na análise e o modo com que seus elementos corporais se enlaçam ao processo de significação.
Finalizamos com a entrevista concedida pela psicanalista argentina Mónica Santolalla por ocasião do XIX Simpósio de Psicanálise da Infância e Adolescência da SPPA, ocorrido em junho de 2017. O colóquio da Revista com os convidados do Simpósio em presença da plateia tem se tornado uma das atividades tradicionais desse evento, e a sua publicação possui por objetivo compartilhar com os nossos leitores esses agradáveis momentos de intercâmbio.
Desejamos a todos uma ótima leitura.
Lúcia Thaler
Editora da Revista de Psicanálise da SPPA
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