Autodestrutividade, um saber profano - proibições e preconceitos - um tabu instituído

Autores

  • Ignácio A. Paim Filho

Palavras-chave:

Masoquismo narcotizante, proibições alienantes, preconceitos, negacionismo climático, ferida narcísica

Resumo

As ideias desenvolvidas neste escrito visam trabalhar a criação de tabus, entre eles as proibições alienantes, o que conduz à produção de preconceitos. Neste sentido, parte-se dos tabus forjados pela cultura da era vitoriana, contemporânea às origens da psicanálise, os quais exigem uma renúncia intensa do desejo, decorrente de um recalque patológico pelo excesso: a sexualidade proscrita, produzindo um “mal-estar” na cultura que será predominante nas duas primeiras décadas do século XX. Objetivando estruturar uma complementação aos tabus decorrentes da problemática do desejo e seus conflitos com a ordem cultural, abordo em seguida os tabus instituídos em função da impossibilidade da humanidade de lidar com algo até então não pensado, isto é, com a força de sua autodestrutividade - um novo “mal-estar” na cultura ­-, ou seja, um saber profano. Para sustentar esse argumento a partir de uma perspectiva metapsicológica, ocupo-me do interjogo do narcisismo versus o masoquismo, bem como suas implicações nas bases fundantes do sujeito e do tecido social. Nesse caminho, que almeja refletir sobre tamanho “mal-estar”, o masoquismo narcotizante — trabalho da melancolia — e o masoquismo protetor — trabalho do luto — serão os nossos guias. Diante dessa proposição, uso como interlocutor o negacionismo climático, que demarca, de forma explícita, a produção de proibições alienantes e preconceitos, os quais decorrem da insuportável dor, do mundo brancocêntrico, ao confrontar-se com o que podemos chamar de uma quarta ferida narcísica da humanidade.  

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ignácio A. Paim Filho

Psicanalista. Membro titular, com função didática da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA).

Referências

Brum, E. (2021). Banzeiro Òkòto: uma viagem à Amazônia centro do mundo. São Paulo: Companhia das Letras.

Freud, S. (2020). A moral sexual “cultural” e doença moderna. In S. Freud, Cultura, sociedade, religião: o mal-estar na cultura e outros escritos. Tradução Maria Rita Salzano Moraes. Belo Horizonte: Autêntica. (Trabalho original publicado em 1908).

Freud, S. (2012). Totem e tabu. In S. Freud, Obras completas (Vol. 11). Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1913).

Freud, S. (1914). À guisa de introdução ao narcisismo. In Escritos da psicologia do inconsciente de Sigmund Freud (Vol. 1, pp. 95-131). Trad. Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

Freud, S. (2010). Uma dificuldade da psicanálise. In S. Freud, Obras completas (Vol. 14, pp. 240-251). Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1917).

Freud, S. (1920). Além do princípio do prazer. In Escritos da psicologia do inconsciente de Sigmund Freud (Vol. 2, pp. 123-198). Trad. Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

Freud, S. (1924). O problema econômico do masoquismo. In Escritos da psicologia do inconsciente de Sigmund Freud 1923-1938 (Vol. 3). Trad. Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

Freud, S. (1925). A negativa. In Escritos da psicologia do inconsciente de Sigmund Freud 1923-1938 (Vol. 3). Trad. Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

Freud, S. (1930). O mal-estar na cultura. In S. Freud, Cultura, sociedade, religião: o mal-estar na cultura e outros escritos. Tradução Maria Rita Salzano Moraes. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

Freud, S. (1933). Conferência XXXV: a questão de uma Weltanschauung. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 22, pp. 193-220). Trad. Jaime Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

Kaës, R. (2016). A ideologia é uma posição mental específica. Ela nunca morre (mas se transforma). Jornal de Psicanálise, 49(91), 207-224.

Paim Filho, I. A. (2014). A “moral sexual” e o recalque patológico: do excesso ao déficit. In Metapsicologia: um olhar à luz da pulsão de morte. Porto Alegre: Movimento.

Paim Filho, I. A. & Machado, A. P. T. (2021). Masoquismo destino das pulsões: origem do sujeito. In Pulsão de morte: a inegável existência do mal. Porto Alegre: CEPdePA.

Paim Filho, I. A. & Paim, A. M. (2023). Negacionismo - Racismo - Poder negro: a devoção tanática pelo não conhecer. In: Racismo e psicanálise: a saída da grande noite. Porto Alegre: Artes & Ecos.

Santos, A. B. (2015). Colonização, quilombos: modos de significação. Brasília: AYO, 2023.

Spielrein, S. (2012). A destruição com origem do devir. In R. Cromberg (Org.) Sabina Spielrein: uma pioneira da psicanálise. Trad. Renata Dias Mundt. São Paulo: Livros da Matriz, 2014.

Sodré, M. (2023). O facismo da cor: uma radiografia do racismo no Brasil. Petrópolis: Vozes.

Publicado

01-11-2024

Como Citar

A. Paim Filho, I. (2024). Autodestrutividade, um saber profano - proibições e preconceitos - um tabu instituído. Revista De Psicanálise Da SPPA, 31(3). Recuperado de https://sppa.emnuvens.com.br/RPdaSPPA/article/view/1233