Call for papers - SEXUALIDADE(S)
Call for papers - Convite para envio de artigos a serem avaliados com fins de publicação
Revista de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre
Volume temático: SEXUALIDADE(S)
Call for papers - Convite para envio de artigos a serem avaliados com fins de publicação
Revista de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre
Volume temático: SEXUALIDADE(S)
Estimado(a) colega,
Da afirmação anatomia é o destino (Freud, 1924) a o destino vem do que os homens fazem da anatomia (Stoller, 1975), percorremos um longo caminho de silenciamentos sobre o tema da sexualidade. A psicanálise tem ampliado a discussão das diversidades de gênero e diferença sexual enfatizando a complexidade destes temas, conduzindo-nos a pensar numa obra em aberto. Há muito a ser refletido e quem sabe elaborado tanto teórica quanto clinicamente. Por reconhecer que o tema é multifacetado, que problematiza e demanda novos modos de pensar e, sobretudo, provoca inquietações no exercício clínico convidamos o(a) colega a participar do novo número da revista: Sexualidade(s).
A multiplicidade de expressões da sexualidade não é um tema novo na história da humanidade, mas foram necessários muitos séculos para que emergisse de seu silenciamento. Foi entre as décadas 50-60 do século XX, que assistimos a uma importante revolução cultural. Inspirados pelo pensamento filosófico de Sartre, Beauvoir, Foucault, dentre outros, e alimentados por ideais de mudança social, estudantes saíram às ruas reivindicando o fim das proibições e a liberdade para a manifestação de pensamento. Começou-se a dar voz às minorias, movimentos feministas, movimentos gays, defesa da ecologia, a voz das crianças, as vozes da diferença, todos passaram a ter existência convalidada a partir do questionamento ao pensamento científico hegemônico, objetivo e racional do projeto moderno.
Em 1976, Foucault publica a História da sexualidade obra que explica como as sociedades sempre procuraram aplicar regras sociais, morais, jurídicas, legislando sobre seus mecanismos e significações, criando e fiscalizando mentalidades, construindo ideologias sem lugar a zonas equívocas, varrendo para fora das formações discursivas conteúdos indesejáveis. As variações de orientação sexual formaram parte deste grupo que Butler (1993) denominou abjetos, criados pela linguagem como inaceitáveis, os outros da cultura.
Como toda revolução advém de uma lenta evolução, encontramos na obra de Freud (1905) uma primeira ruptura com as políticas discursivas de silenciamento. Mas não apenas isso, para além do abalo com a visão do mundo vitoriana, a sexualidade toma frente no estudo da constituição da subjetividade, bem como, a determinação do inconsciente sobre a consciência. No campo da construção do conhecimento, as teses freudianas foram comparadas com a revolução copernicana.
Partícipe de um contexto histórico no qual as questões de gênero se organizavam binariamente de acordo com legislações e códigos culturais, as teses descritas nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Freud, 1905), apresentaram questões que ainda hoje estimulam reflexões. Do instinto à pulsão, da sexualidade biológica à psicossexualidade, da centralidade anatômica à determinação simbólica da sexualidade, temos um caminho incessante de questões. Como ressalta Fiorini (2017), as teses freudianas nos mostram que a sexualidade é migrante por definição; que o desejo excede as normas; que a eleição de objeto é contingente; que as identificações sexuais são plurais e as fantasias bissexuais correspondem a uma dupla aspiração que, em alguma medida, sempre persiste, embora em proporções variáveis.
O legado freudiano tem sido revisitado e ampliado por vários psicanalistas. Podemos citar alguns importantes autores clássicos como: Laplanche (1987) e o significante enigmático que transmite mensagens ao infans impregnadas de conteúdo sexual inconsciente; Lacan (1958) e a insistência na ordem simbólica e nas formas do sujeito se situar na linguagem diante das modalidades de gozo; Green (1971) e a ideia do Édipo como um triângulo aberto com o terceiro substituível; McDougal (1986) e o conceito de neo-sexualidades que abre a roteiros eróticos diversos, nos quais há o reconhecimento do desejo e da sexualidade do outro; Horney(1937) e a ideia do instinto maternal no lugar da inveja do pênis.
Como psicanálise e a cultura sempre formaram um par indissociável e composto de elementos interdependentes, parece estarmos diante de uma nova revolução copernicana (Rotenberg, 2018). Este novo abalo emana justamente das questões que se afastam da psicossexualidade binária para a psicossexualidade complexa. Há uma diversidade de gêneros e de escolhas de objeto e que não configuram quadros psicopatológicos, como outrora considerado. Tanto a heterossexualidade como a homossexualidade podem ser neuróticas, perversas ou psicóticas. Embora saibamos que as determinações internas são sempre predominantes, os valores sociais e produtos da cultura podem exercer forte influência.
Como interpretar o grande aumento no número de jovens que não se reconhecem no próprio corpo e/ou gênero atribuído no nascimento? Em que medida as redes sociais, o bombardeio de informações, têm auxiliado a produzir crianças hiperestimuladas, desenvolvendo uma latência mais encurtada e fragilizada, com quadros disruptivos graves e sem o respaldo suficiente para a organização de uma sexualidade mais coesa?
Gherovich (2018) chama atenção para a facilidade com que a ideologia consumista vende a tecnologia de transformação dos corpos como sendo apenas mais um produto a ser adquirido. Cria uma falsa ilusão de que basta querer transicionar de um sexo para outro e se o resultado final não for do agrado, quem sabe, transaciona novamente. Acompanhando pacientes transsexuais, a autora escreve comoventes relatos em que o transsexual não quer ter este ou aquele sexo, ele quer ser. Acrescenta que, enquanto a cultura vende o produto da transformação, o derradeiro assunto não é o sexo, nem o gênero, mas sim, o direito a existir. Para Rotenberg (2018), a sexualidade é a expressão subjetiva do processo identitário. Fiorini (2013), chama atenção ao desafio da escuta psicanalítica frente a formação de novas organizações familiares, a necessidade de repensar as funções materna e paterna, o desejo de filhos por casais não convencionais. Observa que, em muitos casos, as conflitivas neuróticas com filhos, adotivos ou não, de casais homossexuais não se diferenciam daquelas apresentadas por famílias nucleares, heterossexuais.
Trabalhar com as novas gramáticas da sexualidade e as identidades de gênero têm conduzido os psicanalistas a pensar que a psicossexualidade complexa demanda novas compreensões que não encontram respostas na resolução clássica do complexo de Édipo .
Estamos diante de um quebra-cabeças imperfeito, no qual algumas peças não se encaixam perfeitamente nas outras. Forçar o encaixe é como exigir da teoria que resolva novos problemas através de conceitos e compreensões que servem para explicar conflitivas que são de outra ordem. Além disso, mutilam-se as peças, o que equivale a engessar a visão daquele que joga. O momento atual pede que observemos os espaços vazios que aparecem entre as peças do quebra-cabeças. É desta criteriosa observação que talvez possam emergir as perguntas, as hipóteses, as pesquisas, espaços por onde poderemos ampliar nossa escuta clínica, auscultar nossas próprias crenças, preconceitos, valores, nossa própria sexualidade. Acreditamos que há muito trabalho reflexivo e experiência clínica a compartilhar e reiteramos o convite a participar desta obra em aberto.
As diretrizes para Submissão encontram-se em nosso site: Diretrizes para Submissão.
Caso tenha alguma dúvida ou necessite de mais informações, não hesite em entrar em contato por e-mail, revista@sppa.org.br ou pelo telefone +55 51 984870158 (WhatsApp) com a bibliotecária Eunice Schwaste.
Aguardamos sua contribuição até 30 de Junho de 2025.
Atenciosamente,
Ana Cristina Pandolfo
Editora Chefe
Elena Tomasel
Karem Caineli
Regina Orgler Sordi
Editoras Associadas
Referências
Bosch, H. (1504). O jardim das delícias terrenas [Pintura]. Museu Nacional do Prado, Madrid, Espanha. https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/the-garden-of-earthly-delights-triptych/02388242-6d6a-4e9e-a992-e1311eab3609
Butler, J. (2019). Corpos que importam: os limites discursivos do "sexo". São Paulo: N-1 edições. (Trabalho original publicado em 1993).
Fiorini, L. G. (2013). A sexualidade em cena. Calibán: Revista Latinoamericana de Psicoanálisis, 16(1), pp. 104-106.
Fiorini, L. G. (2017). Alteridad y diferencia. Revista de Psicanálise SBPdePA, 19(2), pp. 95-108.
Foucault, M. (1976). História da sexualidade. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
Freud, S. (2006). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 7, pp. 77-150). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1905).
Freud, S. (2011). A dissolução do complexo de Édipo In S. Freud, Obras completas (Vol. 16, pp. 203-213). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1924).
Gherovici, P. (2018). A psicanálise está preparada para a mudança de sexo?. Estudos Interdisciplinares, 10(2), pp.130-139.
Green, A. (1971). El édipo: mito, estrutura y modelo. In La deliason. Paris: La deouverte.
Horney, K. (1937). The neurotic personality of our time. New York: W.W. Norton & Company.
Lacan, J. (1958). Las formaciones del inconsciente. Buenos Aires: Nueva Visión, 1970
Laplanche, J. (1992). Novos fundamentos para a psicanálise. São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1987).
McDougall, J. (1986). Identifications, neoneeds and neosexualities. The International Journal of Psychoanalysis, 67(1), 19–31.
Rotenberg, E. (2018). A complexidade na psicossexualidade e na identidade. Revista de Psicanálise da SPPA, 25(3), pp. 523-556.
Stoller, R. (1975). Sex and gender the transsexual experiment I. Michigan: Rowman & Littlefield.
A Revista de Psicanálise da SPPA segue padrões e protocolos de integração/interoperabilidade por meio do Open Archives Iniciative Protocol for Metadata Harvesting (OAI-PMH): https://revista.sppa.org.
Si incluso ha iniciado sesión, el sistema lo lleva de regreso a la página de inicio de sesión / contraseña, como un bucle, siga las instrucciones a continuación:
1. Borre el exceso de registros (contraseñas, cachés, inicios de sesión, etc.) usando la opción ctrl + shift + del "borrar todo"
o
2. Intente usar el sitio web de la revista en otro navegador como Firefox, Edge, Explorer, Chrome
Call for papers - Convite para envio de artigos a serem avaliados com fins de publicação
Revista de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre
Volume temático: SEXUALIDADE(S)
Revista de Psicanálise da SPPA | Publicada desde 1993 (1988-93 com o nome de Arquivos de Psicanálise da SPPA)
Publicação em fluxo contínuo | ISSNe 2674-919X (versão eletrônica) | ISSN 1413-4438 (versão impressa) | Qualis B1 (Psicologia)
Rua General Andrade Neves, 14/402 | Centro Histórico | 90010-210 | Porto Alegre, RS | Brasil-| +55 51 98487 0158 | revista@sppa.org.br