Vergonha: uma contribuição ao estudo de sua importância clínica
DOI:
https://doi.org/10.5281/sppa%20revista.v13i3.815Palavras-chave:
Vergonha, Ideal de ego, Ego ideal, Diferença entre culpa e vergonhaResumo
Os autores se propõem a compreender a metapsicologia da vergonha, tendo encontrada como conflito básico a tensão existente entre aquilo que o sujeito desejava ou pensava ser e aquilo que lhe é revelado como real, ou seja, o conflito entre o ideal de ego e o ego. Este conflito conduz o texto à outra questão: a diferenciação entre culpa e vergonha, tão próximas na clínica e muitas vezes confundidas. Dois vértices são apontados: a vergonha enquanto afeto estruturante, como dique contra a sexualidade infantil, como formação reativa à curiosidade infantil, a principal tese defendida por Freud (1905, 1908), e a idéia da vergonha como sentimento associado a uma falha narcísica, ou seja, a vergonha associada a uma revelação do ser quando medida pelo ideal do ego. A culpa estaria associada ao superego e aos atos proibidos executados e/ou fantasiados pelo sujeito. Sendo tênue a fronteira entre estes sentimentos, examina-se o quanto é comum negligenciar-se a vergonha que possa estar escondida atrás da culpa, e daí a importância de o analista manter sua escuta sensível a este afeto primitivo e tão doloroso. A origem da vergonha é uma questão abordada na tentativa de clarear a fronteira destas manifestações clínicas. Os autores buscam na mitologia, em Filoctetes de Sófocles, compreender a natureza dos sentimentos narcisistas e da destrutividade da raiva narcísica, que acompanham os sentimentos de vergonha. As reflexões sobre o mito possibilitam discutir e ponderar a teoria da técnica e a importância da atitude analítica na condução do processo, quando sentimentos tão primitivos como a vergonha excessiva estão envolvidos.
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