Carta ao amigo
Palavras-chave:
Homenagem, Carlos Gari Faria, PsicanáliseResumo
Meu querido Gari,
Lembro-me bem da última vez em que te vi. Estavas dançando com Izabel, a quem carinhosamente abraçavas no ritmo da música. Estávamos juntos, nós, os amigos da Diretoria da SPPA 2016-2017, a relembrar as noites de segunda feira na Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre. Desfrutávamos do primeiro encontro festivo depois da pandemia. Estávamos tão contentes! Somos desse tipo de gente que aprecia as oportunidades da vida e os pequenos gestos cheios de significado. Tivemos a fortuna de ter-te como Diretor do Instituto nessa Diretoria, na qual serviste como conselheiro para todo o grupo. De forma generosa e discreta, compartilhavas tua sabedoria, tua experiência com políticas institucionais, tua cultura psicanalítica. Os debates transcorriam sempre em clima respeitoso e cordial. As discordâncias eram recebidas e discutidas acaloradamente, enquanto as resoluções eram alcançadas em um clima democrático. O que nos unia era o trabalho em benefício do desenvolvimento de nossa Sociedade, de cuja prestigiosa reputação éramos, e seguimos sendo, guardiões. No entanto, o melhor de tudo era a alegria do encontro. Sempre bem-humorados, mesmo após um longo dia de trabalho, lançávamo-nos à tarefa com afinco e entusiasmo e, assim, desenvolvemos uma genuína amizade.
Quando te vi dançando, agora sei que pela última vez, pensei o quanto era bom ter amigos. Tive a esperança de que pudéssemos nos encontrar muitas vezes ainda. Não davas a mínima pista de que estivesse sofrendo de alguma grave enfermidade. Nunca ouvi uma queixa de tua parte, nem de dores, nem da velhice, nem da vida. Eras muito jovial e elegante. De nossos amigos, foste aquele que expandiu fronteiras, explorou novos territórios e vislumbrou com admiração as inusitadas novas paisagens, também no sentido manifesto da palavra! Brincando, costumávamos te chamar de “nosso globe-trotter”.
Porém, desde o último dia em que nos falamos, muita coisa aconteceu. Inclusive o honroso convite da Revista de Psicanálise, através de seu editor Renato Moraes Lucas, para prestar-te uma homenagem. Em um primeiro momento, achei extremamente difícil aceitar a incumbência porque estávamos muito tristes com tua imprevisível perda e, além disso, a tua vida foi tão rica que duvidei poder dar conta da tarefa.
Pensei que, na forma de missiva, quem sabe, talvez conseguisse atingir os objetivos, mesmo que de uma forma parcial e torta, mas certamente justa.
Quando conversamos por Whattsapp, acho que já estavas debilitado, pelo o que pude depreender de tua voz. Mesmo assim, teu espírito otimista predominava. “Que bom falar contigo” me disseste, “faz bem à saúde”. Ninguém diria que te restavam apenas quinze dias (e continua...)
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